
Se meu mundo fosse um vale de lírios azuis eu cuidaria de cada um deles
como os anjos cuidam de suas estrelas. Olharia a cada amanhecer para as folhas
verdes tom sobre tom. Eu não me preocuparia com as nuvens de fumaça que cobrem
a terra. Agitaria as folhas do chão com meu giro e tudo no mundo iria mudar em
segundos.
Mas estou em um labirinto de paredes estreitas. O vento forte levanta
toda poeira e já não consigo ver a diante. Objetos voam sobre mim. O ar começa
a ter dificuldade para entrar em meu corpo para se proteger de todo mal. Cada
caminho que escolho começa um novo começo. Cada curva que faço não vejo finais.
Se meu mundo fosse uma floresta de árvores grandes eu abraçaria cada uma
delas e o mundo entenderia que amor está em cada palavra que digo. Eu sussurro
baixinho para os pássaros voarem. Se as pessoas rastejassem a vida inteira
saberia a importância do casulo. E dariam graças a Deus por suas asas após
isso.
Mas estou em um labirinto de fumaças. E cada passo que eu dou começa um
novo começo. Nada finda e as mudanças me causam medo e ansiedade. Não vejo o
chão onde piso e nem vozes que possam me guiar. Eu grito, mas eco reproduz
minha própria voz que me condena pelo que não quis.
Se meu mundo fosse um vale de lírios azuis eu entenderia por que as
pessoas choram ao invés que observar a chuva. Acordar de manhã dando graças
pelo ar que respiro. Sentaria perto de um esquilo e comeria junto a ele uma
noz. Correria pela mata como os tigres que mostram sua fortaleza em cada
impacto de suas patas no chão de terra úmida.
Mas estou no labirinto de paredes cimentadas em movimentos. Tudo é novo
e não sei mais para onde ir. Não acho meu mapa de planos e preciso achar novas
direções. Alguém olha por mim, mas a solidão nos espaços me faz ouvir o vazio.
Não há dias ou noites, sorrisos ou choros. Um novo começo, sempre um recomeço
sem expressões faciais, sentimentos que se reprimem.
Se meu mundo fosse um vale de lírios do vale eu andaria com os pés na
terra. Saltaria do alto nas águas do rio que corre abaixo de mim. E as pessoas
entenderiam que o amor às vezes vai nos fazer chorar. E então deixariam as
lágrimas caírem livres como se ninguém pudesse vê-las cair. Eu observaria o
vale da montanha mais alta e guardaria em meu interior cada detalhe da beleza
para que os homens soubessem que o quanto um coração pode voar longe.
Mas estou num labirinto de novos começos, onde nada tem um final. Então
penso nos prédios da cidade e desejo as casinhas das fazendas onde cresci. Os
riachos eram mais doces e as lembranças me ajudam a caminhar por entre essas
paredes escritas. Pois o tempo sempre achara um jeito deu sair daqui. Mas o
tempo não existe então caminho sem olhar para traz. Busco uma nova esperança
que faça minha fé florescer.
O vale dos lírios azuis é feitos de nuvens serenas. O labirinto é
formado por linhas que deslizam pelo espaço e tempo e se forma com cada passo
meu. Olho as paredes do labirinto e vejo imagens dos meus pensamentos. Faço
chover com meus desejos, a força do meu pensamento e o vento já não tem a força
de levantar a poeira que se molha. Eu danço no vale dos lírios do vale e meu
vestido se move nas asas da liberdade. E as paredes vão tornando-se árvores que
brincam e o vazio é preenchido por folhas verdes que se enfeitam de lindos
lírios azuis. Labirinto e vale se mesclam ao meu redor e eu percebo que tudo é
parte do meu sentir.
O labirinto me ensina a crescer, ser forte e persistir. O vale dos
lírios me faz entender que o amor estará sempre comigo toda vez que eu me
erguer. E o mundo irá entender que aqui estou eu com histórias contadas uma a
uma. Pois o amor ilumina meus olhos nas estações mudadas dos meus sonhos.